terça-feira, 28 de dezembro de 2010

BOCA


A vontade da boca sedenta
A mão busca o gosto da alma
O olho entorpece o desejo
Cala qualquer sentido
Pra que sentido, nexo ou direção
Cala...
Eu mudo a trajetória do pensamento
Meu olhar... não!


Mateus Carneiro
28/12/10 – 14:36

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Queria que tu fosses noite


Queria que tu fosses noite
A certeza te de encontrar sempre
Sob um luar estrelado e manso...
Mas tudo que foi é chuva de verão...
A ventania que precede o escuro
Que leva embora o sol
Me assusto com as trovoadas
Rezo pelas gotas
E me banho de saudade
Como criança que espera pela correnteza na calçada
Pra brincar com um barquinho de papel...


Mateus Carneiro
15:33 – 20/12/10

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

...a te olhar nos olhos


Certa noite me peguei a te olhar nos olhos
A dizer que te amo
A pensar que o poeta estava errado
Que o pra sempre não acaba
Esse mesmo poeta que morreu por amor
Sem provar o sempre
Nessa mesma noite me peguei a pensar como um outro poeta
E a ter o medo que aquela poesia me deu
O tremor de morrer por “amar mais do que pude”
Mas como dar medida ao infinito
Dar números ao incontável
Então me peguei a pensar em ti
E ver que todas as outras poesias
Por mais belas que sejam
Não fazem a verdade
Então que eu morra te amando
Pra poder morrer em paz
Morrer feliz...
Naquela noite percebi que não mentia
Ao te olhar fundo nos olhos medrosos
E ver que ali morava meu coração
Naquela noite vi que tudo que eu queria
Estava naqueles olhos castanhos
Que me chamavam pra perto
E me mostrava que a poesia mora
Nesses corações amantes como o meu


Mateus Carneiro
01:09 – 30/01/01

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

¿Medo?


¿Medo?
Talvez...
De ler mentiras no espelho do banheiro
De ver mentiras ao ser olhar nesse espelho
Medo de preferir areia movediça à terra firme
Medo de mentir pra si mesmo
Medo do leão que devora o peixe
Mais por fome que por gosto
O cigarro dando um adeus lento no cinzeiro
O copo que se esvazia rápido
E a inveja que não ficar vazio
O barulho do teu silêncio no meio da madrugada
Como trovoadas e relâmpagos em dias de sol
Medo de o cigarro apagar antes de mim
Medo d’ele durar a noite toda...
¿Medo?
Talvez...
De se acostumar com o que não concordo
De achar normal ver o que não me atrai
E terminar com um café...
Pra adoçar o coração e amornar a alma...


Mateus Carneiro
13/12/10 – 17:31





quinta-feira, 18 de novembro de 2010

E agora já era...


E agora já era
Caem por terra as marcas...
As roupas...
O sabor é novo e a textura também...
Já foi tudo que era tatuagem...
Na pele outro cheiro
No corpo outro tempero...
Uma noite inteira em claro
Pra deixar tantas outras pra trás...
As cicatrizes ficam por dentro
Na lembrança, na carne...
Mas a alma faz de conta que ta curada...
Que não lembra do gosto macio
Do corpo pequeno...
Da pele suada por tantas razões...
Agora já era...
Já foi
Passou o tempo do ontem
E o tempo agora
É meu mais novo amigo de infância...


Mateus Carneiro
10/10/10 – 14:11



sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Te Amo...


Te amo no escuro
De olhos vendados
Te amo sem precisar
Sem esperar te amar menos
Te amo no tato
No paladar de cada poro
Te amo...
Por não querer te amar...


Mateus Carneiro
05/11/2010 - 01:25

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu confesso!


Eu confesso!
Não tiro da cabeça uma madrugada inteira
Mesmo que ela não entre na tua
A cor, o toque, o teu gosto na minha boca
O som do copo ficando vazio
A roupa caindo, a língua
O som da porta fechando forte
A simples vontade do todo
Do agora, sem nexo nem responsabilidade
O meu gosto era qualquer um pra ti
Mas o teu não sai da minha pele
Eu confesso!
Outras noites me fariam inteiro
O mesmo gosto não...


Mateus Carneiro
18:53 – 02/11/10

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Meio Irracional


Eu acho meio irracional a literalidade
Por muitas vezes falta um certo tino
Um ponto partida ou chegada
Um ponto de exclamação era tudo que eu queria
Nas interrogações reticentes
Que me prendem a cada falta de inspiração
Eu respiro lento como se o ar pudesse extinguir o sopro
Por mais que eu procure nexo
Ele foge a passos largos
Da menor condição de ser explicado
Em meio ao literal
É racional pensar de forma reta
Por mais que nessa estrada
As curvas tomem conta
De tudo que se faz caminho


Mateus Carneiro
21/10/10 – 19:04

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vontade de falar baixinho...


Tu me dá vontade de falar baixinho
Sussurrar...leve
Falar tudo que o corpo pede
Que a alma implora e sente
Tu me da vontade de ser louco...
Desses loucos de viver amarrado...
Eu viveria amarrado no teu mundo
Se o teu mundo fosse todo meu...

domingo, 24 de outubro de 2010

Quem eu conheço...


Quem eu conheço entre máscaras e maquiagens
Entre muros e grades
Entre murros que a gente teima em dar
Nas pontas das línguas mais afiadas
Quem eu vejo atrás do batom vermelho
É mais forte
É mais limpa
Mais inteira que uma noite inteira
Quando se olha a casca
Poucos enxergam por dentro
Eu te li
Decorei uma das pessoas que vivem aí dentro
E mesmo assim, de longe, eu continuo lendo
Mas sem nunca saber quem ta virando a página
Desse livro de capa dura e páginas macias
Úmidas pelas lágrimas que as dores do esquecível trazem.


Mateus Carneiro
15:24 – 24/10/10

domingo, 17 de outubro de 2010

Do desejo à flor da pele... Que não se faz rosa



Até quando
Até sempre
Sempre quando nunca
Até onde
Até quanto
Quanto cabe aqui
Sendo amor
Sendo carne
Quando cabe aqui
Até quando
Até quanto
Nunca parei pra te ver minha
Por onde se faz visível
Mesmo sendo impossível
Não te querer
Mesmo sendo tempo
Mesmo não tendo tempo
Por ser distante quando necessário
Até que prove
Carne e suor
Até que prove o contrário
Paixão e desejo
Até que eu sinta teu gosto
Na ponta dos meus dedos
Por quando é erótico
Por então, sendo físico
Por tesão, sendo ótico
Mesmo sendo desejo
Supondo que seja música
Sempre assim
Quando vejo
Te quero encanto
Te quero dúvida
Por sempre se faz sincero
A vontade à flor da pele
No toque que nunca espero
Na mão que me repele
Por paixão
Ou por angústia
Por quando é saudade
Por sempre solidão
Pela distância que invade
Me carrega pela mão
Do desejo à flor da pele
Que não se faz rosa

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

...pode ser simplesmente um espelho...


...pode ser simplesmente um espelho...
ou uma fuga... o alvo pro descarrego...
pode ser muita coisa,
pode ser até um erro continuar tentando
pode tentar continuadamente o mesmo erro
pode ser que possa ser certo
mas não tá em mim ou nela a resposta
não tá na cor da roupa ou no gosto da comida,
no brilho do chão, tá no todo...
na vontade de ser, de estar
se ficar, de ir, de amar todo,
de falar de amor, de poder gritar,
de poder chorar, de simplesmente poder...
de viver um dia depois do outro
sem precisar de desgastes,
de palavras em negrito saindo correndo da boca.
a diferença entre nós é essa...
a felicidade chega em mim por meios mais simples...




Mateus Carneiro
19/06/09 – 09:58

sábado, 2 de outubro de 2010

Desconexo


Desconexo
Desconcerto
Uma manhã cinza de sábado
Eu que ‘tô sempre lendo o mesmo livro
Me perco em linhas diferentes
Rotação de motores em baixa
A taxa de bytes menor que a pulsação
Desconectar do todo num gole de café
É só o início da lucidez
Desconexo
Desconheço os caminhos feitos
Prefiro os novos que desenho no papel
Sempre marcado pelos traços da borracha
Que me fazem mudar de ideia
Desconcerto o modo de ver
Da mesma janela outro olhar
A marca dos dedos na lente dos óculos
O dedo marcado pela corda
E eu ainda lendo o mesmo livro
Procurando (desco)nexo
Nas nuvens dessa manhã cinza de sábado



Mateus Carneiro
26/06/01 – 11:01



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Por mais que venha de perto é de longe que se ouve...


Por mais que venha de perto
É de longe que se ouve
A voz calma vai indo
Dando adeus à história
Dobra a esquina e se perde
E me perco
Em meio aos cacos e ecos
Da última palavra
Do último beijo
Por mais que seja intenso
Não tem mais força pra ser
E a voz que antes era dentro
Agora dissona
Não ouço mais os pés na manhã cinzenta
Desejando bom dia aos pés do ouvido
Hoje eu caibo na cama
Mesmo ficando no mesmo espaço
Que antes sobrava pra mim
Mas nem assim eu caibo
Nessa lacuna que ficou
Entre eu e o ontem
Entre os nós na garganta
E as lágrimas que teimam em se guardar
Pro dia em que tudo virar lembrança


Mateus Carneiro
23:43 – 31/08/10


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eu gosto disso...


Eu gosto disso
Quadros no chão
Conectividade e ruptura
O jingle que virou hit
A foto que virou história
A ligação entre fatos
Os feitos de uma ligação
Quando o prefixo ainda era 33
Não importa quem disse
Se Quintana
Se um cara na rádio as 3 da manhã
Ou se ouvi de meu cachorro cusco
Mas o tom da frase era incerto
Ainda assim, gosto disso
Da imparcialidade do tempo
Dia de pouco sol
Dia de poucas nuvens
Cinza ou amarelo
Preto ou avermelhado
As cores que vejo
São as mesmas do quadro
Que teima em não sair do chão
Dias de poucos amigos
Dias pra se ficar sozinho
Dissonância e uníssono
Uma corda que discorda das outras
Ou se o resto fecha os ouvidos pro tom certo
Aos 33 do segundo tempo
Uma bola na trave
Um chute por cima
O grito trancado
Não de gol
De medo
Que as 3 da manhã
A voz do rádio me diga não
Que o dia mude de cor
E que meu quadro saia do chão



Mateus Carneiro
02/06/10 – 08:49



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E aquele velho jogo de xadrez...


E aquele velho jogo de xadrez
Que deixamos pra depois
Ficou ali
Esperando a próxima jogada
Um joguete...
Mas amanhã eu volto ao tabuleiro
Penso numa estratégia complexa
Para dar um cheque mate (pré-datado) à solidão
Deixo pra atrás as mazelas e asneiras
E corro... pra ver o mar, pra ver o pôr-do-sol
Pra sentir o vento no rosto
O velho jogo mora ainda na memória
As jogadas certas, o tombar das peças
Sem rei ou rainha é mais simples
É mais bonito chegar ao topo
Mesmo que o dia seja cinza
Renasce a felicidade...
O reencontro...
Ser mais feliz não requer mais coisas
E sim ver o hoje com os olhos
Que se colocava sobre o tabuleiro
Sobre as peças que teimavam
Em não seguir o caminho
Que eu traçava...


Mateus Carneiro
29/09/10 – 16:40